O GEPETO DOS BOTÕES

Conhecendo um pouco sobre Lorival: O Gepeto dos Botões…

Lorival LimaTentamos relatar um pouco da história do saudoso mestre Lorival de Lima, um dos personagens mais conhecidos no universo do botonismo e do Futmesa. Lorival detinha a patente do botão acrílico e também do modelo argola. Ele contava que fez o primeiro time em 1969, quando era ferramenteiro, para o filho de seu patrão. O jovem, que era ninguém menos que Rafael Barricelli, nosso querido Lito, gostou e o “artista” resolveu entrar no ramo.

O lendário ‘Gepeto do Botão’, Lorival de Lima, começou a fabricar botões há quase 50 anos. Seus produtos foram parar no exterior e entre outros países podemos citar a Argentina, Itália e Hungria. E ele chegou a intermediar negociações entre clubes e jogadores, de futebol de mesa, claro.

Sua história começa em 1950, quando, com 11 anos, Lorival sai de São Bento do Sul (SC) e chega a São Paulo, determinado a tornar-se jogador de futebol de campo. Por dez anos, mostrou talento no Santos (do Cambuci), Flamengo (da Vila Maria), Botafogo (de Vila Carrão) e até no River Plate (do Brás), passando também pelo Vila Teodoro, pelo Parque da Mooca, pelo Sampaio Correia e pelo Rosa Negra, da favela da Vergueiro, na Vila Mariana.

Em 1968, o ferramenteiro Lorival trabalhava na Metalúrgica Rota, no bairro do Belenzinho na região central de São Paulo, onde foi o seu local de trabalho durante 30 anos, até 1990. O filho do dono da Metalúrgica era Lito, que já se exibia entre os jogadores de “botão”.

Lorival e seu torno

Diz Lito: “Do pessoal, quase todos jogavam com tampa, depois começaram as argolas e aí todo mundo mudou. O primeiro argola que tive ganhei do Primo, um antigo botonista quem fazia na Lapa, era o tio de dois antigos jogadores: os irmãos Heraldo e Tute. Cheguei a jogar com eles no Alfa clube na Lapa, depois me transferi para o São Judas onde jogavam Mingão, Atienza, Mesquita, Guilherme (pai do Lenon é Lelly), Paulo Edson, Jardim, Boris, época de ouro do Futmesa.”

O Primo indicou o Sr. Lauro, o gerente de uma transportadora que tinha um torno e fabricava os botões para quem jogava no Grêmio Carnot. O Sr.Lauro passou algumas dicas para fabricação de botões, Lito ia na Rua do Gasômetro e comprava retalhos de acrílico e deu as dicas para o Lorival que, na hora do almoço, fazia os times para Lito. Outros jogadores começaram a ver e gostar, foi quando Lito incentivou Lorival a fabricar botões.

Lorival na Revista PlacarLorival comprou o maquinário, o primeiro cliente foi José Mesquita, dono do colégio São Judas. Lito relata que foi entregar com o Lorival os times para José Mesquita, que perguntou o preço, o Lorival falou o preço, olhou para o José e perguntou: “Está caro?”, e ouviu a resposta: “Arte não tem preço”. Daí em diante quase todos jogadores faziam times com Lorival, que ficou famoso e se tornou o maior fabricante.

Lorival deixou registrado também que, no início, a Estrela quis comprar a patente, mas ele não aceitou, queria continuar fazendo de forma artesanal. Apesar de fazer tantos times durante tanto tempo, ele não jogava. O seu negócio sempre foi o futebol de campo. Chegou a passar em peneira no Corinthians, time de coração, mas desistiu. Mas os anos de janela lhe deram um aguçado olhar de técnico de Futmesa, e dizia: “O que diferencia um bom jogador dos demais é a força com que se bate na bolinha, o comprimento dos dedos, o grau de inclinação dos botões e o autocontrole”.

Lorival concedeu entrevista à Revista Placar, em janeiro de 1987 (imagem ao lado).

Quanto ao ‘Gepeto do Botão’, Lito diz ter dado um troféu com esses dizeres a Lorival que o mantinha em sua oficina, na Rua São Leopoldo em frente a metalúrgica do pai de Lito. Posteriormente Lorival foi morar na Vila Mariana, também morou no litoral e enfim foi morar em Socorro/SP.

Time do Guarani pertencente ao José Farah, atual vice-presidente a CBFM na modalidade Bola 12 Toques
Guarani pertencente ao José Farah, atual vice-presidente a CBFM na modalidade Bola 12 Toques

Ainda segundo Lito, vez em quando Lorival fazia uns times de presente e se recusava a cobrar nem o material: “Eu falava em pagar e ele ficava puto da vida e dizia: Se estou bem é por causa de você que me colocou nisso”. Lito ainda tem o último time que Lorival o presenteou.

Em Socorro, um dos clientes de Lorival, o dono de uma sorveteria centenária, era presença constante na sua oficina ainda no Belenzinho. Ademar, o dono da sorveteria, tem mais de 400 times.

À margem das confusões nos bastidores, todos os botonistas preocupam-se sempre em entrar em campo com verdadeiros craques. Por isso, os profissionais especializados na confecção de verdadeiras obras artesanais são extremamente valorizados. Era o caso de Lorival. Ele recebia pedidos de 22 estados e tinha ilustres clientes, celebridades como o ex-deputado Delfim Netto, o ex-ministro do Trabalho Murillo Macedo e a roqueira Rita Lee. O grande segredo para o sucesso de seus botões era a personalização de cada um deles. “Calculo o peso da mão do jogador e o ângulo em que ele move o botão com a palheta”, ensinava Lorival. Criador do primeiro botão em acrílico feito no Brasil (material utilizado até hoje), Lorival recebeu inúmeros convites para industrializar seus pequeninos craques, mas nunca aceitou compartilhar sua refinada técnica com máquinas automáticas. A fila de espera chegava a passar de um mês.

Lorival com seu amigo Armandinho (PE)
Lorival com seu amigo Armandinho (PE)

Lorival Lima faleceu no dia 22 de janeiro de 2013. https://www.fefumerj.com.br/bola-12-toques-faleceu-lourival-lima/

Reprodução:
http://mariazfutmesa.blogspot.com/ que foi baseada na publicação https://botoesparasempre.blogspot.com/
Por Ricardo Macceu
Com Rafael Barricelli (Lito)