ENTREVISTA COM O MESTRE ADAUTO CELSO SAMBAQUY

ENTREVISTA COM O MESTRE ADAUTO CELSO SAMBAQUYConfira a entrevista concedida pelo Mestre Adauto Celso Sambaquy ao QUE CAVADA – O canal do Futebol de mesa página do Facebook dedicada ao futebol de mesa, especialmente da modalidade Disco. Adauto Celso Sambaquy é um dos idealizadores do que hoje é a modalidade Disco. Recomendo a leitura, independentemente da modalidade que o amante do futebol de mesa pratique, pois a entrevista nos conta uma história de dedicação ao esporte da parte de uma lenda viva do futebol de mesa, um exemplo para todos nós desportistas e que merece todo nosso respeito e homenagens.

Introdução: José Carlos Cavalheiro | Diretor de Comunicação | FEFUMERJ

O BOTONISTA E SUA HISTÓRIA Relatos e imagens desta quinzena não poderia ser com outro botonista, senão ADAUTO CELSO SAMBAQUY. Bancário gaúcho aposentado e um dos baluartes do nosso querido futebol de mesa. Homem abnegado e apaixonado pelo esporte, que em 1966, lendo a antiga Revista do Esporte, editada no Rio de Janeiro, encontrou uma reportagem com o título: “BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES” escrita por Oldemar Dórea Seixas. Resolveu escrever para Oldemar. Um ano depois, junto com o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, sr. Gilberto Ghisi, foi a Salvador e com participação de Adhemar Dias de Carvalho, Oldemar Seixas, Nelson Carvalho e Dartanhã da Costa Mello, criaram a Regra Brasileira de Futebol de Mesa, através da fusão e adaptação das regras praticadas no Rio Grande do Sul e na Bahia.

Vamos juntos conhecer um pouco mais da história de ADAUTO CELSO SAMBAQUY!

“Esta personalidade foi um dos criadores desta paixão que existe hoje em nossas vidas chamado de Futebol de Mesa. Ele foi um visionário que foi à Bahia buscar a Regra Brasileira, e com isso criou o intercambio com os irmãos baianos. como consequência , hoje graças a esta iniciativa o Sul do Brasil está inserido neste contexto. Pessoa de muita sabedoria, grande líder, por onde passou plantou a semente da amizade, respeito e lisura em nosso esporte. Caxias do Sul e Brusque que o digam, é fundador em ambas as cidades, é todos nós reverenciamos a este exemplo de amigo, de cidadão e de desportista. UM LIDER NATO que com sua modéstia jamais aceitará minhas palavras, mas é o registro que faço com o testemunho de todos que acompanham e sabem da historia de nosso esporte amado. ”
Paulo Schemes (Botonista da Associação de futebol de mesa Floripa/SC)

1.Quem é Adauto Sambaquy? Onde e quando nasceu?
Sou gaúcho. Nascido em Caxias do Sul, em 09 de outubro de 1936. Estou com 81 anos de idade, lúcido e trabalhando muito em algo que amo muito: Maçonaria. Meu nome é Adauto Celso Sambaquy.

2..O senhor lembra onde e quando iniciou no futebol de mesa?
Fui apresentado ao futebol de botão, na primavera de 1947, na residência de meu colega Marco Antônio Barão Vianna. Fui convidado por um vizinho (Jaudir Canali) para assistir a um torneio de futebol de botão. Era na mesma rua em que morava, apenas cinco quadras abaixo, em direção ao estádio do Juventude. Curioso, fui ver o que era aquilo que estava mobilizando alguns colegas da Escola Normal Duque de Caxias, onde estudávamos. Marco Antônio era filho do Senhor Décio Vianna, tesoureiro do Banco do Brasil e meu colega de classe. Sentava ao meu lado na escola. Ele me explicou tudo sobre o futebol de botão, pois era jogado com botões mesmo. Mostrou seus times, dizendo o nome de cada um dos botões. Seu time era o Ypiranga, de São Paulo e os botões eram guardados em uma caixa pintada nas cores do time (branco e preto, com um distintivo desenhado). Foi amor à primeira vista. Não lembro quem ganhou o torneio, pois eu, deslumbrado com tudo aquilo, não via a hora de voltar para casa e começar a organizar o meu time. De fato, meu avô, que morava em nossa casa foi a vítima da vez. Lixei os botões na calçada, preparando cada um deles. Outro colega, Renato Toni, já falecido, fabricava os goleiros de madeira e os pintava em uma oficina de latoaria, que existia em frente à sua casa. De posse do meu goleiro, comecei a jogar na casa do Renato, que era no mesmo quarteirão da minha. A residência dele era na Av. Júlio de Castilhos e a minha na rua Alfredo Chaves. Jogávamos até altas horas da noite e a mãe dele, apagava a luz e nos mandava embora, caso contrário ficaríamos jogando até a madrugada. Meu time era o Vasco da Gama e o dele São Paulo. Nos finais de semana, nós dois saíamos para os bairros para jogar contra colegas. Todo sábado era uma excursão para nós dois. A regra era parecida com a gaúcha, com um toque para cada um.

3. Como aconteceu sua chegada na modalidade liso e quais os tipos de regras que anteriormente praticou?
Como relatei anteriormente, praticava uma regra quase semelhante à gaúcha, com um toque para cada um. Jogávamos com botões de roupa, nos primeiros tempos. Com o tempo fomos tomando conhecimento de que havia em Porto Alegre, à rua Paulino Teixeira, 51, uma fábrica de botões puxadores, pois eram puxadores utilizados em móveis, para abrir as gavetas. Por sinal, na casa de uma tia havia um móvel com esse tipo de puxadores e tive de resistir muito para não roubar os ditos cujos e transformá-los em grandes craques. Com o advento dos puxadores, que hoje são chamados de galalite começamos a organizar times imbatíveis. Mas, ao atingir uma idade em que os namoros tomavam conta de nosso tempo, abandonamos um pouco o futebol de botão. Na ocasião, eu jogava futebol em um time de amigos. Com esses amigos, nos sábados, fazíamos partidas de botão. Num desses sábados eu deixei meus dois times na casa de um colega de time, pois depois de nossos jogos, iriamos dar umas voltas no centro, curtir as meninas. Nessa noite a casa desse amigo incendiou e meus dois times (Vasco da Gama e Corinthians) morreram queimados. Comecei a montar novo time, mas, havia perdido o contato com o pessoal que jogava e aos poucos consegui reunir uma boa quantidade de botões. Só que, ninguém mais jogava constantemente. O tempo passou, e em 1963, quando assumi a minha carreira no Banco do Brasil, descobri que havia um departamento de futebol de mesa. Fui procurar o colega que o chefiava e disse-lhe que era praticante de futebol de botões. Naquele final de semana nos reunimos na AABB e começamos a bater uma bolinha, pois a Associação havia comprado uma mesa e dois times do senhor Lenine Macedo de Souza. Foi uma empolgação enorme. Começaram a surgir botonistas, que ao verem dois marmanjos jogando, se incorporaram. Entre nós funcionários, havia alguns pelotenses, que também jogavam. Foram até Pelotas para buscar seus times. O campeonato, na Regra Gaúcha, foi realizado naquele mesmo ano. Descobrimos que o pessoal do Banrisul também jogava, e entre eles, alguns colegas que jogavam comigo na época da adolescência. Marcos Pedro Amoretti Lisboa, Delesson Pavão Orengo, Justo Martins, Carlos Bertelli, Sylvio Puccinelli e Antonio Azevedo disputavam o interno do Banrisul. Realizamos o Campeonato Bancário, na sede do Sindicato e em seguida o Campeonato Caxiense. No ano seguinte, sempre jogando a Regra Gaúcha, realizamos grandes campeonatos nos mesmos setores – internos – bancário e caxiense. Sempre jogando na Regra Gaúcha. Mesmo assim nunca fomos convidados para disputar o estadual. Nos informaram que deveríamos criar uma Liga, que agregaria todos os clubes e assim nos daria o direito de nos filiarmos à Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Foi o que fizemos em 1965. Na inauguração da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, realizamos na AABB, um torneio com o pessoal da Federação. Sucesso absoluto.
Pouco tempo depois disso, numa Revista do Esporte, antecessora do Placar, era publicada a reportagem com o título BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES. Muitas fotografias e o endereço do responsável pela publicação. Escrevi a ele, contestando essas lições, visto que nós tínhamos uma Federação Riograndense de Futebol de Mesa. Enviei junto a correspondência um exemplar da Regra Gaúcha e algumas fotos. Recebi uma resposta de nove laudas, explicando o movimento nordestino, pois não era somente a Bahia que estava praticando o futebol de mesa. Acompanhou essa resposta três botões padronizados, belíssimos: Vasco da Gama, Grêmio e Ypiranga da Bahia, um goleiro de madeira, semelhante aos primeiros que utilizávamos e bolinhas olho de peixe. O pessoal da AABB ficou encantado com aquilo. Continuamos a nos corresponder, dali para a frente.
Em 1966, ao completar nosso primeiro aniversário, organizamos um grande torneio da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, convidando o pessoal de Porto Alegre, Rio Grande, Arroio Grande, Pelotas, São Leopoldo para participar. Por educação, em virtude de estar trocando correspondência, convidei meu amigo baiano para o evento, certo que ele agradeceria e não compareceria. Engano. Veio o meu amigo Oldemar Seixas e trouxe consigo Ademar Carvalho, com uma mala cheia de times baianos lisos. Venderam tudo aqui no sul. No torneio, na Regra Gaúcha, o Ademar Carvalho sagrou-se vice-campeão, mostrando realmente que eles davam lições de futebol e botão. A única solicitação deles era que conseguíssemos uma tábua de 2,20 x 1,60, para que eles construíssem um campo. E fizeram, se ocupando durante dois dias, até que o campo estivesse pronto. Colocamos escondido e disputamos o torneio, sempre na Regra que todos aqui jogavam: a Gaúcha. Findo o torneio, entrega de prêmios, os dois baianos colocaram a mesa que havia fabricado e disputaram uma partida em sua regra, a Baiana. Ao meu lado o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, Gilberto Ghizi, arregalava os olhos e me perguntava: – Eu estou vendo esta maravilha? Respondi – Estamos vendo. Realmente, naquele momento foi produzida uma ideia que nos uniu muito, durante o restante do ano. Por que não reunir o bom da Regra Gaúcha com o que existia de bom na Regra Baiana e não construir uma Regra para todos os brasileiros? Nos ocupamos disso nos seis meses seguintes. Como a Federação havia solicitado que Caxias promovesse o Campeonato estadual de 1966, apresentamos para todos os participantes o anteprojeto da Regra, que levaríamos à Bahia, para apresentar aos amigos, no sentido de unificar a maneira de jogar e com isso conseguir realizar o PRIMEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO DA MODALIDADE. O anteprojeto foi aprovado por todos os presentes, sem contestação. No mês seguinte, janeiro de 1967, viajamos para a cidade de Salvador, Gilberto Ghizi e eu, onde, por 23 dias discutimos e formulamos a nova regra. O único ponto que sofreu diferenciação, foi o tamanho da mesa, pois defendíamos uma mesa intermediária entre a gaúcha e a baiana. Tivemos de nos curvar ante a realidade, pois todas as agremiações do nordeste, não só da Bahia, mas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe usavam a mesma mesa e algumas não teriam condições de repor mesas intermediárias. Nós, de qualquer maneira, teríamos de construir mesas novas para jogar. Aceitamos então que a mesa seria a que jogamos na atualidade. Em dois dias, os baianos publicaram a nova Regra em livretos, dos quais os seis autores assinaram e tornou-se um documento histórico. Trouxemos para o sul os livretos para a distribuição aos interessados. Caxias do Sul aderiu inteira ao novo sistema, passando a dedicar-se à modalidade lisa desde 1967. Porto Alegre, entretanto, por motivos de interesses dos fabricantes de mesa, botões, bolinhas, goleiros, opuseram-se ao novo sistema, destituindo o senhor Gilberto Ghizi da presidência da Federação, reassumindo o senhor Lenine. Gilberto perdeu amigos, emprego, foi considerado traidor, e sofreu muito, por ter tido o sonho de querer ver os brasileiros jogando uma regra única. Até hoje sofre, pois foi, repudiado por muitos daqueles que ele considerava amigos.

4. A maior satisfação que o futebol de mesa lhe proporcionou nesses anos, em especial , alguma lembrança ?
Indiscutivelmente, as grandes amizades conquistadas ao longo desses mais de cinquenta anos da Regra Brasileira; a realização de Campeonatos Brasileiros, que reúnem botonistas de todos os recantos de nossa pátria em um evento único, desde 1970; pessoas que fizeram do futebol de mesa o seu ganha pão, fabricando botões, mesas, maletas, réguas, bolinhas. Posso dizer, sem vaidade alguma, que eu acredito ter feito um enorme bem a quem aprecia o nosso esporte. Vejo meninos se tornando homens de responsabilidade, formados ao redor das mesas de nosso esporte. Essa é a felicidade imensa que o futebol de mesa me proporcionou e proporciona sempre. Vejo com carinho pessoas se interessando em divulgar e contar a história que é tão bonita, trabalhosa, mas sempre gratificante. Tudo o que envolve o futebol de mesa me encanta. Quando presidente da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, em 1980 (antecessora da Confederação Brasileira), fiz a aproximação com botonistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que jogam modalidades diferentes. Jogamos modalidades diferentes, mas somos amigos, e só como amigos é que poderemos conseguir o reconhecimento do CND, como de fato aconteceu. Hoje o futebol de mesa é um esporte reconhecido e não mais uma diversão infantil.

5. O que levou o senhor a optar pelo futebol de mesa como modalidade esportiva?
Bem, em minha vida eu pratiquei esportes sempre. Joguei futebol de campo, de salão e de mesa. Mas, como nos dois primeiros eu era apenas razoável, no terceiro me sobressai. No futebol de mesa eu senti a necessidade de organizar, de promover e transformar num esporte reconhecido e não mais uma diversão que geralmente era feita em porões, garagens ou sótãos. Tiramos do anonimato e levamos para os clubes, colocando a vista de todos. Era aquilo que gostávamos de fazer e com certeza, muitas outras pessoas passaram a praticá-lo em razão disso.

6. O que representa o futebol de mesa na sua vida? Atualmente, dedica algum na semana a prática do futebol de mesa?
Foi um sonho que se realizou integralmente. Lutei muito e andei por esse Brasil inteiro por causa dele. Felizmente o resultado está aparecendo em todos os lugares. Vejo hoje, com alegria, o trabalho da AFM Caxias do Sul (sucessora da Liga Caxiense) que acolheu as crianças da Associação da Criança Feliz e está ministrando instruções de futebol de mesa, usando seu material, seus associados, reunindo aquelas crianças pobres e premiando aos que se destacam. Ainda fornece lanche e condução. Cada criança dessas será um pai ou mãe de família, daqui a alguns anos e, com certeza, vai legar aos seus o que aprendeu em uma mesa.

7. Joga com qual time e o que o levou a esta escolha?
Iniciei jogando com o Vasco da Gama. Depois ganhei de um tio um time do Corinthians, de plástico. Com o desastre que culminou na queima dessas duas esquadras, e em virtude de muita gente escolher o Vasco da Gama, resolvi então jogar com o G. E. Flamengo (atual SER Caxias). Com o Flamengo fui campeão caxiense em 1969. Em 1973, fomos convidados para disputar um torneio em Salvador. Eu iria representar meu time, o Flamengo, e resolvi solicitar a um diretor do clube uma camisa usada, para poder me apresentar, visto que cada um iria com a camisa do seu clube. Naquela época era impossível encontrar camisa do Flamengo caxiense para comprar, nas lojas especializadas. Simplesmente foi negada. Fiquei desapontado e um dia depois, no Banco do Brasil, atendi ao Paulo Cesar Carpeggiani, que fora visitar seu irmão Celso Tadeu Carpeggiani (Borjão) que trabalhava comigo. Borjão apresentou-o e eu arrisquei: – Paulo Cesar, eu jogo futebol de mesa e tenho um time do Internacional, gostaria de ganhar a sua camisa. – Prontamente ele disse que me daria. Os dias passaram e, como o Borjão jogava na Asociação Caxias (que foi uma fusão entre Juventude e Flamengo, não dando certo) houve um jogo Caxias x Inter, em Porto Alegre. Eu lembro que estava escutando o jogo em meu carro e no final, o locutor disse: – Que cena bonita, Paulo Cesar tira sua camisa e entrega a seu irmão Borjão. Vibrei, mas fiquei quieto, vai que o Borjão também a quer. No dia seguinte, ao entrar no banco o Borjão me disse: A camisa está comigo, mandei lavar e perfumar e trarei para ti. Daquele dia em diante meu time é Inter e o número 10 será sempre Paulo Cesar Carpeggiani. Essa camisa é o troféu mais valioso que eu guardo na minha galeria.

8. Quais os botonistas que, ao longo de sua carreira, mais o incentivaram?
Talvez seja essa a pergunta mais difícil de responder. Tive tantos parceiros durante todos esses anos, que citar, posso esquecer alguém. Renato Toni, nos primeiros tempos, Ênio Chaulet, em outra época, Vicente Sacco Netto, Marcos Pedro Amoretti Lisboa, Delesson Orengo, Raymundo Vasques, Sérgio Calegari, Sylvio Puccinelli, Boby Ghizzoni, Airton Dalla Rosa, Luiz Ernesto Pizzamiglio, Daniel Maciel, e tantos outros na Regra Brasileira. Tenho uns nomes na Regra de Doze Toques que também fizeram muito por mim: Geraldo Cardoso Décourt (escreveu o primeiro livro de Regras, em 1930), Antonio Maria Della Torre, Oswaldo Fabeni de Oliveira. Na Regra de três Toques José Ricardo Caldas e Almeida.

9. Quais mais o influenciaram e impressionaram?
Devo confessar a você que me impressionava muito a maneira como os antigos baianos jogavam. Com a unha, sem usar paleta, ou régua, faziam jogadas impressionantes. Era impossível olhar e não se admirar. Foi um tempo em que o futebol de mesa era mais romântico, jogado com os botões na mesa, cavando somente o necessário. Hoje em dia todos os botões jogam nas laterais, cavando qualquer jogada.

10. Em sua opinião, qual o tipo de time ideal, grau , altura, diâmetro, material?
Sou do tempo dos botões de ataque com 25 graus. Os botões de defesa eram menores do que os atuais, os de ataque eram ainda menores e o centro avante bem menor. Mudou muito o tipo de botões. Ficaram mais bonitos, vistosos, mas apropriados para o tipo de futebol de mesa praticado na atualidade. O material melhor para mim é paladon.

11. O futebol de mesa, sabidamente, não se resume aos títulos e troféus conquistados. Quais foram as suas maiores alegrias na carreira? E as maiores tristezas ou decepções?
Troféus ficam nas prateleiras, amigos no coração. Ganhei alguns campeonatos citadinos em Caxias e em Brusque (SC). Alegrias, existem sempre que leio alguma coisa sobre o futebol de mesa, vendo que o meu sonho foi alcançado por muitos outros amigos. Uma alegria grande foi quando construímos uma sede própria na cidade de Brusque, a qual legamos aos que vinham após nós, mas que não souberam administrar. A sede ainda continua por lá, mas não sei mais como está sua situação. Foi registrada em nome da Associação Brusquense de Futebol de Mesa e na parte de cima cabiam sete mesas oficiais. Tristezas ou decepções houveram, mas falar delas é reviver e remexer em uma ferida cicatrizada.

12. Qual a sua partida que você chamaria de inesquecível?…cite uma positiva e aquela que não gostaria de lembrar?
Realmente foram tantas as partidas boas e más, que pinçar alguma como a melhor ou pior é difícil. Mas, recordo de uma partida, quando defendia o G. E. Flamengo, na inauguração do departamento de futebol de mesa do Pombal A.C., em Caxias. O pessoal do Pombal resolveu que deveria ser jogado um Fla x Ju. Flamengo contra Juventude. O Juventude era do meu colega Rubem Bergmann, que havia sido jogador do Juventude na década de 40 e era um dos funcionários mais antigos da agência do Banco do Brasil da cidade. Eu nunca havia perdido para ele. Estavam assistindo dois irmãos que haviam jogado no Flamengo, e faziam parte do meu time. Mostrei a eles os botões com seus nomes e eles ficaram interessados no jogo. Sabe, aquele dia em que nada dá certo. Era o meu dia. Não consegui acertar nada e o Bergmann acertando tudo. Fez o primeiro, e eu achando que daria para virar o jogo. Ele acaba fazendo o segundo e no final, consegui acertar e marcar o gol de honra. Então um dos irmãos vira para o outro e diz: – Está igual ao nosso tempo. O velho Zizinho é quem fazia os gols. Meu gol foi feito pelo número 8- Zizinho.

13. Descreva um fato pitoresco acontecido no futebol de mesa, dentro ou fora da mesa?
Bem, um fato pitoresco acontecido foi ainda na Regra Gaúcha. Pouco depois de receber os botões do meu amigo baiano, no meu jogo pelo campeonato interno da AABB, coloquei o botão do Vasco para jogar no meu time. O jogo estava pegado e eu enfrentava o Rubem Schumacher. Na regra gaúcha, quando a bola ficava numa situação difícil para o adversário, a gente recuava os botões para defesa. Como estava difícil para o meu adversário eu passei a recuar os zagueiros e resolvi recuar o botão do Vasco. Acostumado com os botões cavados, apertei a paleta no botão baiano e ele saiu deslizando rumo a minha área, e, não parou mais. O centro avante adversário estava dentro de minha área e o vascaíno atropelou o número 9. Pênalti. Perdi o jogo por causa do botão que havia ganho de presente. Não jogou mais comigo.

14. Existe uma conscientização generalizada em favor do “fair-play” nas competições esportivas. Apesar dos “quilômetros rodados” o que tira você do sério numa competição de futebol de mesa.
Na pergunta 11 você falou em tristezas ou decepções e eu disse que seria reabrir férias. Mas, agora me colocaste no fogo. Eu parei de jogar futebol de mesa, no campeonato brasileiro, realizado em Pelotas, no ano 1980. O ano em que eu fui presidente da Associação Brasileira de Futebol de Mesa. Estava jogando contra um figurão do esporte, baiano, e estava vencendo por 1 x 0. O sujeito me irritou tanto, me tirou do sério, que acabei entregando o jogo, fazendo faltas bobas, dando dois toques. Simplesmente as disputas do futebol de mesa, por quem eu tanto lutei, acabaram naquele dia. Ele ganhou o jogo e perdeu um amigo. Não cito nome, pois ele não está mais entre nós. Mas, acredito que foi represália por tê-lo vencido em um torneio em Caxias do Sul, jogado algum tempo antes, e ficado com o título de campeão. No mês seguinte ele voltou a Caxias para realizar uma revanche. Nunca engoliu aquilo.

15. Qual a competição mais organizada de que você tomou parte?
Cito o campeonato Brasileiro realizado em 1981, quando eu fui o organizador e não joguei. Criamos uma tabela espetacular, com mesas para a prática do liso, pois já havia muito cavado e as mesas do ano anterior tinham sido especiais para cavados. Premiamos com a colaboração do comércio e indústria da cidade e o campeão não levou o troféu para casa, pois tivemos de despachar por transportadora. O troféu tinha um metro e meio de altura. Deve ter sido o maior troféu já destinado a um campeão brasileiro. Hosaná que o diga.

16. Quais são as maiores qualidades e defeitos da regra de 1 toque?
Sou suspeito para falar, pois mudou muito a maneira de jogar. Todo mundo adaptou-se a essa maneira que está sendo praticado o esporte na atualidade. Por essa razão devo imaginar que deve ser a melhor. Quando, nas décadas de 70 e 80, os jogadores permaneciam mais na mesa. Hoje eles jogam nas laterais, nas linhas de fundo. Não havia tantas cavadas. Enfim, todo esporte tem de se adaptar aos recursos que aparecem e não serei eu quem vai recriminar ou contestar alguma coisa.

17. Que sugestões você daria para a nossa regra ficar ainda melhor?
Que sempre prevaleça as ideias da maioria e não da minoria. Sempre existem pessoas querendo adaptar o futebol de mesa às suas vontades. Nem sempre elas serão aceitas por todos.

18. Quanto ao futuro do futebol de mesa: Quais os projetos que você vê no caminho certo? Onde e como as demais associações podem também auxiliar nesse sentido?
Vejo o projeto que a AFM Caxias está realizando e aponto como uma atitude correta. Está mostrando a uma juventude pobre que pode conviver em harmonia e com isso afastando essas crianças do mundo da perdição. Ressalto também o trabalho que está sendo feito na cidade de Aliança, em Pernambuco, mantendo um excelente campeonato para os pequenos. O futebol de mesa terá futuro quando os botonistas se voltarem às crianças, pois essas crescem e se tornam adultos.

19. Um sonho que você ainda não realizou no futebol de mesa?
Sinceramente, tudo o que eu sonhei no futebol de mesa foi realizado. Nunca sonhei individualmente, em ganhar títulos em ser o melhor de todos. Meu sonho sempre foi o de tornar o futebol de mesa o esporte que é hoje em dia. Fazer do futebol de mesa uma maneira das pessoas conseguirem manter suas famílias, e isto está acontecendo também. Ver um campeonato brasileiro com a quantidade de pessoas, de todos os lugares do Brasil, irmanados em um só ideal. Isso tudo não dá lugar a qualquer outro tipo de sonho não realizado. São sonhos concretizados completamente.

20. Finalizando, deixe seu recado ou impressões sobre o tema que preferir.
Acredito que quem ler estas respostas saberá aquilo que eu penso e aquilo que eu sempre imaginei para o nosso esporte. Que sempre existam idealistas que promovam o futebol de mesa e que nunca esqueçam que a gente pode fazer tudo aquilo que sonhou, desde que se predisponha a fazer e não esperar que alguém faça por ele.

“Tive o privilégio de conhecer Adauto Sambaquy numa competição em Caxias do Sul. Onde ele estava sendo homenageado, é desportista abnegado e apaixonado pelo futebol de mesa, pessoa que sem esforços viu que aquela paixão pelo esporte poderia de alguma maneira envolver outros estados através da unificação de regras. Para consolidar isso, junto com outros abnegados não mediu esforços e foi atrás. Tenho profunda admiração pelo desportista, pessoa generosa e o legado de Sambaquy. Procuro passar ao meu filho, que me dá o privilégio de ser botonista assim como eu, esse exemplo de inspiração para a vida”
Nilmar Ferreira (Botonista do CAF/Poa )

Comissão que elaborou a Regra Brasileira, em janeiro de 1967
Adauto Celso Sambaquy – Rio Grande do Sul
Ademar Dias de Carvalho – Bahia (falecido)
Gilberto Ghizi – Rio Grande do Sul (com problemas de saúde)
Nelson Carvalho – Bahia (falecido)
Oldemar Dorea Seixas – Bahia (afastado do futebol de mesa)
Roberto Dartanhã Costa Mello – Bahia (falecido)

NÃO FOSSE O AMOR PELO ESPORTE E A ATITUDE DE SAMBAQUY, Qual teria sido a evolução do futebol de mesa? Como estaríamos o vivenciando nos dias de hoje? Sem nenhuma sombra de dúvidas muitos contribuíram para a evolução do esporte no Brasil, mas Adauto Celso Sambaquy sempre deverá ser lembrado como um dos maiores, senão o maior nome desta história tão maravilhosa do nosso futmesa.

SAMBAQUI-FOTOS

DESCRIÇÃO IMAGENS
1.Logo da Federação Riograndense e de outras entidades da época.
2.Equipe gaúcha no primeiro brasileiro (1970) – Ângelo Slomp, Walmor Medeiros, Jorge Compagnoni, Adauto C. Sambaquy e Airton Dalla Rosa. Ângelo, Jorge e Airton eram meninos de 14/15 anos. Os adultos ainda não acreditavam na possibilidade de jogarem futebol de mesa em competições oficiais. Tivemos de conseguir autorizações dos pais desses meninos para que nos acompanhassem. Hoje são pais de família honrados.
3.Equipe gaúcha no segundo brasileiro(1971) Recife. Em Pé Adauto C. Sambaquy e Marcolino Pereira, sentados Walmor Medeiros, Mário Ruaro De Meneghi e Rudy Vieira.
4.Campeonato Brasileiro realizado na cidade de Brusque. A tabela que falei sendo atualizada. Na primeira foto Sambaquy, Vilmar Merisio, Ari Merico e Oscar Bernardi (Presidente da Associação brusquense), na segunda foto a atualização da tabela e na terceira os gaúchos laureados.
5. Nos anos oitenta estive em São Paulo, tratando com Geraldo Cardoso Décourt (à esquerda), Antonio Maria Della Torre centro – presidente da Federação Paulista de Futebol de Mesa) sobre a união de forças no sentido de conseguirmos uma regulamentação do nosso esporte
6. Botões dos anos setenta e botões atuais. Veja o tamanho dos atacantes de duas épocas. O de cima é o meu Flamengo, fabricado em 1967 e o Inter fabricado pelo sr. Manuel, de Rio Grande
7. Relação dos campeões caxienses. Observe que inicia-se em 1963, dzois anos antes da criação da Liga.
8.Compêndios do futebol de mesa que estão depositados na AFM Caxias, e que contam a história do futebol de mesa dos anos 60 até o ano 2000

Reprodução: QUE CAVADA – O canal do Futebol de Mesa