CAMPEÃO ESTADUAL DE DADINHO, VINÍCIUS ESTEVES REVELA OS DETALHES DE SUA FAÇANHA INÉDITA E HISTÓRICA
V de Vitória. V de Vinicius. Vinicius Esteves. Versátil, eclético e apaixonado pelo esporte, o garoto nascido no bairro de Olaria, em Nova Friburgo, superou as adversidades (na vida e nas mesas) para – com dedicação e persistência – escrever seu nome na história do Dadinho: campeão Estadual Individual. De forma inédita, o craque do Friburguense, clube que também celebra seu primeiro título na competição, revelou os segredos para alcançar tamanha façanha, aos 28 anos de idade, diante de adversários do mais alto nível. Engana-se, porém, quem o considera um novato ou um sortudo. Vinicius não caiu de paraquedas no Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército, domingo (30/11), no Rocha. A arte de palhetar com categoria vem de muitos anos, período no qual ele se aventurou na Pastilha e na 12 Toques, um aperfeiçoamento na caminhada para soltar o grito de campeão, no Dadinho, na temporada de 2025.
► Campeão da Série Ouro do Estadual do Rio de Janeiro, competição que reúne os principais jogadores do futebol de mesa no Brasil no Dadinho. A ficha já caiu?
Confesso que ainda estou pensando nisso. O curioso é que muitos acham que foi a primeira vez que eu ganhei algo expressivo em competições promovidas pela Fefumerj. Claro que, dessa vez, foi o título mais importante da minha trajetória como federado, que teve início em 2011. Foi uma conquista única, a realização de uma meta pessoal. Só que, na regra 12 toques, eu já fui campeão de etapa na Série Ouro, campeão da Copa do Brasil de 2015 (Série Prata) e campeão brasileiro juvenil (2015). Nsse ano de 2025 ainda fui vice-campeão Estadual da Pastilha.
► Como você avalia o seu feito inédito no Dadinho?
De forma muito satisfatória. Não tem outra palavra para definir. Treino todas as semanas, mas somente às quintas-feiras… Então, foi com muito esforço e dedicação. Na véspera da etapa, eu cheguei a dar 200 chutes no treino de sábado à tarde, com métodos diferentes, com goleiro maior para dar mais precisão na hora dos chutes durante as partidas. Também faço isso na Pastilha, quando treino com goleiro de Dadinho, o que facilita na hora do chute, que fica mais “automático”.
► Qual o segredo (ou a fórmula) para superar as adversidades e as dificuldades em competição de nível tão alto?
Não se abalar e confiar no seu próprio chute, no seu estilo de jogo. Acho que o fato de eu ter jogado as quatro regras este ano me ajudou bastante. Peguei um pouco de cada regra e incrementei às minhas jogadas, principalmente na regra 12 Toques, que o foco total é na marcação, com concentração máxima. Também procuro ficar longe dos holofotes para nada me abalar durante as competições.
► Como você avalia seu desempenho e a sua campanha na última etapa do Dadinho?
Foi muito honroso e satisfatório. Como disse anteriormente, mantive meus retrospectos anteriores, com pouquíssimas derrotas a cada etapa. Como nessa última do Dadinho, foram apenas duas derrotas.
► Sim, além das duas derrotas, foram 11 vitórias e dois empates. Qual foi o jogo mais difícil, mais tenso, aquele no qual você teve de tirar o coelho da cartola para vencer?
Apesar de eu ter ganho o jogo no agregado, e também ter vencido o mesmo adversário na primeira fase, o segundo duelo contra o Régis (America), no segundo mata-mata, foi o mais tenso e no qual eu dei mais mole, pois quase perdi a vantagem da primeira partida, quando fiz 5 a 2. No segundo jogo, ele abriu 3 a 0 rapidamente e poderia ter ampliado a vantagem para 4 a 0 em um dadinho de quina, como ele tanto gosta. Mas não fez, então, eu fui lá e matei o jogo no contra-ataque (apesar da derrota por 3 a 1). Destaco, também, os jogos contra o Bandini (Fluminense), que foram acirradíssimos. Na segunda partida, quase cometi o mesmo erro em relação ao Régis, pois abri 3 a 0 no segundo jogo, ele fez 3 a 2 e quase tomei a virada.
► E como você avalia o seu desempenho no Estadual como um todo?
Muitos podem achar uma surpresa meu desempenho, com o que eu até concordo, porque muitas pessoas não sabem que já fui campeão em outras regras, mas eu estive em quase todos os pódios entre os oito do ranking este ano. E ainda fiquei em quinto lugar da Série Ouro no Brasileiro em Porto Alegre (RS). Fiquei muito satisfeito, pois ficar entre os cinco melhores do Brasil foi sensacional. Só não esperava que o melhor ainda iria viria com este título do Estadual Individual. Acredito que esse ano foi meu auge no futebol de mesa.
► O que significa para você representar o Friburguense e elevar Nova Friburgo em nível tão expressivo no esporte?
É muito expressivo, com certeza. Eu sou de Nova Friburgo, torcedor do Friburguense e peguei o auge do time no futebol, quando os times da capital vinham jogar aqui e sofriam… Desde criança, sempre acompanhei e vivi o Friburguense intensamente. Hoje sou atleta de futmesa pelo clube. Agradeço, também, o incentivo de nossos apoiadores locais, principalmente à prefeitura, que esse ano viu meus resultados e começou a me ajudar, de forma simbólica, ao longo da temporada.
► Com que idade você aprendeu a jogar? Quando se federou?
Essa é a pergunta que eu mais escutei esse ano nas etapas (risos). A galera continua achando que eu jogo há apenas dois anos, mas eu parei de jogar botão por muitos anos, por motivos pessoais, principalmente de trabalho, já que eu não podia viajar aos domingos. Isso acabou comigo uma época, pois eu jogo federado desde 2011, nas regras que já citei.
► E como foi o começo?
Eu aprendi com meu pai, que não jogou federado, depois peguei a época raiz. Só que meu pai desanimou. Meu irmão mais novo, muitos não sabem, jogava bem também e já foi terceiro lugar no Brasileiro juvenil em 2015. Depois a galera desanimou, mas Nova Friburgo chegou a ter mais de 100 pessoas jogando por mês. Eu persisti.
► Como você se define como jogador?
Confesso que sou grato pelo meu estilo único de jogar. Como eu disse, praticar todas as regras me ajudou a evoluir. Consigo chutar de todos os lugares da mesa, até da ponta, como são os chutes da 12 Toques, o que eu consegui fazer no domingo. Sorte ou não, não sei (risos). Acho que a palavra ‘versátil’ define bem o meu estilo.
► Se espelha em alguém para jogar? Qual craque faz a sua cabeça?
Eu era muito focado na regra 12 Toques, então, um dos caras que jogavam do jeito que eu achava maneiro era o Pablinho, o Pablo, do Friburguense, que já foi vice-campeão da Copa do Brasil na 12 Toques. Esse era fera, chutava como poucos do meio de campo, mas não praticava muito o Dadinho. Ele passava rápido na zaga, como poucos fazem. No Dadinho, um dos melhores com quem aprendi foi o Diego Ratinho, o Mágico. Ele jogava na época da Feboerj, mas, se atuasse até hoje, com certeza estaria entre os oito melhores do Rio de Janeiro. É uma lenda viva, que parou há anos. Só que, por ironia do destino, fez comigo meu último treino pré-etapa de domingo. Do nada. E foi o único a me ganhar na véspera da competição, mesmo depois de anos sem jogar (risos).
► O que é preciso para ser um jogador de ponta e atuar em alto nível?
Acredito que conhecer outras regras. Eu já joguei até com comprimido de remédio quando não sabia da existência do dadinho, 15 anos atrás (risos). Acredite se quiser, eu fazia campeonato sozinho em casa, pois era muito novo e o bairro onde eu morava não era confiável para eu estar na rua tão garoto. Tinha uma sede no meu bairro (Olaria) e cheguei a fugir para lá para poder jogar botão. Depois, quando eu fui jogar federado, muitos dessa turma já haviam parado. Felizmente. Friburgo tem uma grande história no futebol de mesa, viveu uma época de ouro, e, desde então, o Doutor Fernando Cruz consolidou o cenário. Joguei muito quando era criança, por isso, de uns anos para cá, animei em voltar a jogar Dadinho.
► E ano que vem, irá em busca do bi estadual?
Com certeza. Se sonharmos, todos temos chance (risos). Claro que será muito difícil. Acredito que o Dadinho seja a regra mais difícil de ser praticada, devido ao equilíbrio, e, principalmente, pelo número de atletas. Cada etapa tem mais de 100 competidores. Ainda depende muito de outros fatores. No meu caso, o trabalho sempre foi um fator complicado, pois depende de datas disponíveis no calendário para poder viajar. As pessoas não sabem a dificuldade que é sair de Friburgo para competir, fora o investimento em passagens de ônibus. Sair às 4h da manhã para começar a jogar as 9h… O deslocamento, para mim, é o mais difícil. Mas vamos tentar esse bi, sim.
Texto: Alysson Cardinali | Diretor de Comunicação Dadinho | FEFUMERJ





