BOTÃO DE CHIFRE NO FUTEBOL DE MESA, A RARIDADE QUE ATRAVESSA DÉCADAS

BOTÃO DE CHIFRE NO FUTEBOL DE MESA, A RARIDADE QUE ATRAVESSA DÉCADAS

“Antes de jogar, temos que limpar os botões”. Enquanto passa seus “jogadores” na almofada de carnaúba, o militar reformado Abiud Gomes fala sobre a seriedade de uma das atividades mais tradicionais na infância: o futebol de mesa. Antes da chegada dos computadores e da popularização dos videogames, era através dos botões que os mais jovens organizavam suas equipes, colocavam seus ídolos em campo. Hoje em dia, um grupo mantém vivo o jogo, sendo muito mais que uma diversão. Membros da Associação Pernambucana de Futebol de Mesa (APFM) se reúnem todo fim de semana com suas equipes de todos os tipos: acrílico, resina, osso. Entre estes, um em especial chama a atenção: o botão de chifre.

Criado por presos da Casa de Detenção do Recife (onde fica atualmente a Casa da Cultura), o botão feito com chifres de boi foi introduzido na década de 40 em Pernambuco. Nos dias atuais, uma equipe de chifre é raridade, verdadeiro item de colecionador. “É diferente, feito por um artesão não por um mecânico”, comenta Alexandre de Freitas, um dos sócios da APFM. Além da composição diferente, e o formato distinto do que é jogado no resto do País, o botãobol tem regras únicas, que têm por objetivo deixar o jogo mais parecido com o futebol de campo. “Hoje no Brasil se joga botão de tudo que é jeito, mas só aqui utilizamos esta regra dos 12 toques, a regra pernambucana”, afirma Abiud Gomes. “O nosso, se você olhar os placares recentes, até os scores são semelhantes aos do futebol”, completa. A “Rainha das Regras” inclui também tempo, bola de borracha e goleiro em formato cilíndrico, diferente dos goleiros retangulares tradicionais.

A relíquia não é fácil de encontrar, e também de se adquirir. Um time completo pode custar em torno de 400 reais, a depender do valor simbólico que aquela esquadra tenha também. “O que faz o preço do botão é a paixão da gente”, diz José Ribamar, torcedor fanático do Grêmio. Com uma vasta coleção à mostra na entrada da Associação, Ribamar mostra orgulhoso a paixão pelo time gaúcho, que data de 1958.

Com as condições propícias para os jogos, surgem as disputas. Nos campeonatos organizados pela Associação Pernambucana de Futebol de Mesa, cada jogador representa uma equipe. Desde os pernambucanos até os times mais tradicionais do Brasil. Nesta escolha de equipes, acabaram nascendo paixões como a de Cláudio Sandes. Desde 1973, ele detém equipes do Coritiba.

Uniformizado como se fosse entrar em campo, como um jogador, ele, que também torce para o Santa Cruz, fala sobre como surgiu a paixão pela esquadra alviverde. “Foi uma opção, porque eu queria ser Santa Cruz mas já tinha gente com o time. Então ‘seu Abiud’ sugeriu o Coritiba. E daí a paixão foi aumentando”, contou Cláudio. A dedicação ao time paranaense é tanta que o pernambucano viajou até o Paraná para assistir jogo do time do coração. Nos botões, são 14 times só “Coxa Branca”.

Os “comandantes” dos times de botãobol estarão reunidos no segundo fim de semana de abril, no dia 8, quando acontece a oitava edição do Campeonato Chifronésio, que reunirá apenas equipes compostas por botões de chifre.

Reprodução: www.folhape.com.br/